Continua a brilhar, ó
Cuba!
Israel Shamir
INTRODUÇÃO

Fiz uma palestra
numa conferência que teve lugar na deliciosa Havana.
Depois de longa ausência, a cidade tem muito melhor
aspecto, muitas casas e estradas foram restauradas;
drogas e prostitutas não se apercebem e há carros novos,
mas, contudo, permanece o velho encanto. Mesmo nas áreas
delapidadas, não se encontra o desespero, a violência e
a depressão moral que se vê, digamos, no Bronx Sul. As
pessoas cantam, dançam, fumam os seus longos charutos
onde quer que seja — isto é liberdade! O Ser que cuida
dos passarinhos, também cuida dos cubanos: as lojas têm
poucos artigos, mas as pessoas parecem bem alimentadas e
bem vestidas. Transformaram o Parque Central num Canto
do Orador de Hyde Park, embora a discussão seja
predominantemente sobre desportos. Os cubanos viajam
também para o estrangeiro, embora não lhes seja fácil
obterem vistos de entrada em países que sempre se
queixaram das restritivas políticas cubanas de
imigração. Uma conhecida minha foi três vezes a Miami
ver a família, mas da quarta vez recusaram-lhe o visto
de entrada nos EUA. Muitos cubanos viajam para a América
Latina para lutarem contra o analfabetismo e darem ajuda
médica, e regressam a casa. Os restaurantes têm
abundância, mas a comida varia desde o mau ao
indiferente. As bebidas são tão boas como no tempo de
Hemingway. Há pouca ansiedade e muita esperança de um
melhor futuro, mas sem mudanças drásticas. Os pintores,
artistas e músicos cubanos vivem bem, e produzem obra
original. As igrejas estão a ser restauradas depois de
longamente negligenciadas, embora a frequência dos fieis
seja bastante reduzida. Muitas pessoas ainda sentem que
é a igreja ou o socialismo. O Vaticano é bastante
negativo em relação à revolução e ao socialismo; a
igreja não quer abandonar o seu isolamento, disse-me um
padre mentalmente sóbrio. Entretanto, a Santeria, um
culto nativo de origem africana, difunde-se. Vê-se
frequentemente gente toda vestida de branco: são adeptos
da Santeria. O estado não se rala nem com a Igreja
Católica nem com a Santeria.
Fora da cidade,
as coisas também não vão mal. O campo é verdejante e
limpo; especialmente mais longe dos subúrbios de Havana.
Estive numa fazenda de café a uns 100 quilómetros a
oeste de Havana. Por acaso o nome do fazendeiro era
também Israel, um nome aliás não raro por aqui. Era um
indivíduo corpulento que trabalhava os seus 5 hectares
de terreno com suas próprias mãos, auxiliado por dois
empregados, e se mostrava satisfeito com o socialismo: o
estado compra-lhe sempre o produto e paga-lhe a um preço
decente: paga-lhe 20 para vender a 25 nas lojas. A filha
formou-se em medicina, enquanto o filho o ajuda na
fazenda. A sua única preocupação é que o estado lhe paga
em moeda local, enquanto para muitas das suas compras
ele precisa de pesos duros, convertíveis. De certo
desagradável, mas é difícil evitar uma corrida ao
dinheiro se o comércio for livre. Ele consegue obter
essa moeda dura alugando quartos a estrangeiros que
venham passar férias nas águas de Soroa, um lugar de
encanto e reclusão situado num vale escondido na
montanha. Dão-nos as boas vindas aqui: não há telefone,
mas acomodam-nos bem, o preço é normal, e o jantar foi o
melhor que eu tive na ilha.
O país está em
bastante boa forma, embora seja bastante dispendioso
para o visitante. Têm uma razão de câmbio algo
proibitiva para o dólar US, de modo que é conveniente
trazer outra moeda. Contudo, cartazes de “George Bush é
igual a Adolfo Hitler”, e bandeiras pretas em frente da
embaixada dos EUA mais do que compensam tais
inconveniências. Fidel governa em pessoa, e o jornal
publica as suas cartas na sua própria caligrafia. Sim,
tudo isso é estranho, mas Cuba tenta derrotar a
Ganância, e isso é uma tarefa muito difícil. A Ganância
e a Luxúria são as mais difíceis de combater, diz-nos o
Talmude, como se nós não o soubéssemos ☺. Os Russos
nunca recuperaram as posições perdidas. Fidel não lhes
perdoou os dias de Gorbatchev, quando a [anti-]
soviética KGB cedeu um após outro os estados socialistas
aos Americanos. Cuba estava programada algures entre a
GDR e a Roménia. A GDR era um estado muito bem sucedido,
e os Ossies (1) ainda lamentam a sua falta. Mas o KGB
estava propenso à total eliminação do socialismo. O
presidente romeno foi abatido por ser teimoso. Em Cuba,
as forças de Gorbatchev prepararam o General Ochoa para
um golpe de estado e a total restauração do domínio US,
mas Fidel soube disso e o traidor foi executado, como o
russo left.ru reportou recentemente.
Putin também
começou com uma cedência — a da base monitora russa em
Cuba. Foi fechada, ostensivamente porque a renda anual
(para vigiar todo o tráfico norte americano) era muito
elevada. É verdade que Putin e a Rússia mudaram muito
desde 2000, mas têm ainda de trabalhar duramente para
compensarem os erros de anos passados.
A Venezuela é a
actual grande amiga de Cuba. As suas relações são
múltiplas, e não apenas comerciais. Muitos venezuelanos,
assim como personalidades importantes cubanas e da
restante América Latina, revolucionários e dignitários,
assistiram à conferência; a língua espanhola era de
rigor, e eu salvei-me pela Prof. Maria Poumier, nossa
amiga, colega, escritora e tradutora com grandes
conhecimentos na sociedade cubana. Como muitos cubanos,
ela prefere o Martismo aos Marxismo. Agora ela não tem
muito interesse pela guerra e não se transformou num
pequenino homem verde. José Marti, um escritor cubano do
século XIX, tomou o lugar de Karl Marx na consciência
pública. Não é má ideia, abaixo com o culto destes
importantes pensadores alemães! Marx, Freud ou Einstein,
não, Cuba livre, sim. Ou melhor: mojito (2)
se faz favor. Entre as pessoas interessantes que
encontrei estava Célia Hart, com quem discuti a
respeito de Estaline (a minha preferência) e Trotski (a
dela) há alguns anos, e fizemos a paz com Ronkoli (Rum
Collins, em cubano).
Outro cubano com
quem discuti, Otero, acabou de morrer, e não tivemos
tempo para nos reconciliarmos.
Apareci na TV
nacional e dei entrevistas aos dois jornais nacionais,
promovendo a ideia de um estado democrático em vez do
apartheid judaico na Palestina/Israel. O
apartheid sul-africano foi destruído pela valentia
cubana em Angola. Felicitei-os. E eles responderam
brevemente: não planeamos mandar tropas para libertar
Gaza. ¶
(1) Ossies
= os alemães de Leste (Ost), contrapostos aos Wessies,
alemães de Oeste (West). LUSO
Digamos
desde já, que a exposição de Shamir me deixa um pouco
chocado, mas, seguindo o conselho dado aos leitores,
esqueço-me dos meus preconceitos, e não faço qualquer
censura, que aliás seria pretensiosa, baseada nesses
preconceitos. O mundo é estranho e o que nos parecera
negro pode bem revelar-se com uma cor menos tétrica,
talvez até mesmo rosa ou até branca. Ontem o nazismo e o
comunismo eram negros. Talvez quem os pintou com essa
cor é que sejam corvinos, a julgar pelo que se vê hoje
em dia. A Internet esclarece-nos muito. Sem ela
estaríamos em trevas ainda. E vê-se isso na nossa TV: as
omissões são flagrantes e ela não dissipa a escuridão em
que nos querem metidos. LUSO
(2) Bebida
nacional de rum com hortelã e gelo. (LUSO)
Continua a
brilhar, ó Cuba!
(Palestra proferida por Israel Shamir
na
II Conferência Internacional sobre o
Equilíbrio Mundial, em Havana, Cuba,
29 de Janeiro de 2008)
“Esta é uma
grande honra estar em Cuba a falar-vos, porque, para a
minha geração, Cuba é sempre uma parte importante da
nossa juventude romântica. Eu era apenas um adolescente
há quarenta e cinco anos, quando o jovem Fidel prometeu
levar a revolução e a liberdade do homem a todas as
Américas, desde a Terra do Fogo ao gelado Alasca,
passando por Washington, e o seu grito ainda reverbera
nos meus ouvidos. Foram dias gloriosos que se foram, e
durante muito tempo as pessoas sentiram que nada ia
acontecer, e que devíamos estar contentes por este
último refúgio da liberdade ainda subsistir. Trouxe-vos
boas notícias. Não desespereis. Vós não sois a última
trincheira da resistência ao domínio imperial cedo a ser
varrido para sempre. A maré da história mundial vira-se
agora, e estamos prontos para o contra-ataque. As
pessoas que se opõem ao Império Neo-Liberal sentem que
elas não são os últimos bisontes das pradarias, nós
somos o exército vitorioso de amanhã.
A revolução é
necessária, e quem estava esquecido disto foi recordado
há alguns dias pelos acontecimentos na minha amada
Palestina. O povo de Gaza fez uma revolução: votou
contra a vontade do ocupante, expulsou o bando
colaboracionista de Dahlan, rompeu o cerco, saiu,
arriscou a vida, empurraram o exército, derrubaram a
barreira, passaram por cima do arame farpado, eliminaram
a fronteira entre os dois estados, cometeram tantos
feitos heróicos, sofreram baixas. Sem esta revolução,
não lhes permitiriam ir sequer comprar pão para os
filhos. Aqui está um bom exemplo para todos nós: nada
pode ser feito fora dos limites legais que inimigos nos
impuseram. Há necessidade de um empurrão chamado
Revolução.
O tema da
conferência é o Equilíbrio, e a meu ver, equilíbrio é o
nome da vitória que conquistaremos amanhã, pois
equilíbrio é do que o mundo actual mais gravemente
precisa, o equilíbrio entre a afluência e a modéstia,
entre os direitos e os deveres, entre as necessidades da
maioria e os desejos da minoria, entre o masculino e o
feminino, entre o desejo de mudança e a necessidade de
estabilidade, entre a intervenção e a soberania, entre
as superpotências e os pequenos estados, entre o
secularismo e a Igreja. Todo o regime tenta atingir
algum equilíbrio, mas o nosso equilíbrio deve ser
harmonia, isto é, equilíbrio estável.
Como escritor
russo-israelita, eu partilho o meu tempo entre
Tel Aviv e Moscovo, e falo de uma perspectiva russa e
israelita. Cresci na União Soviética socialista, e,
como sabeis, a palavra “Soviete” significa “conselho”,
tanto no sentido de “grupo” como no de “recomendação”,
e por isso não posso deixar de dar conselhos☺. A União
Soviética tinha os seus problemas. Concordo com o meu
amigo, um maravilhoso escritor russo, Maxim Kantor: se
cinquenta anos de comunismo demonstraram que o comunismo
falhou, os seguintes vinte anos de capitalismo
demonstraram que o capitalismo falhou ainda mais
profundamente. A União Soviética não entrou em colapso
devido a problemas materiais (os Russos viviam muito
melhor do que os Cubanos), não devido a perturbações de
produção, mas sim devido a problemas ideológicos: os
ideólogos soviéticos foram derrotados na batalha das
ideias.
A batalha das
ideias não tem lugar na mente de eremita, mas nas mentes
de milhões ligados entre si por meio do discurso, desde
uma conversa em volta da mesa do jantar até a um
programa de TV. O discurso forma o campo de batalha, e
este campo de batalha, como todos os campos de batalha,
não é um terreno plano sem acidentes próprios:
imaginem-se montes, desfiladeiros, vales e cursos de
água a atravessá-lo, tornando a batalha tão complicada
quanto uma batalha em terreno real.
Esta batalha
mudara o seu carácter desde que os nossos inimigos e os
inimigos da liberdade inventaram e construíram uma
máquina singular, como nunca fora conhecida da
humanidade. Esta máquina é um aparato integrado para a
formação da opinião pública; e é constituída pelos meios
de comunicação de massas, peritos e universidades;
possui praticamente todos os jornais e estações de TV;
produz uma narrativa única; e consegue lavar os cérebros
das massas. Os donos desta máquina são os Mestres ou
Proprietários do Discurso. São eles que decidem aquilo
que o povo deve saber e qual a opinião que deve ser
aceitável e qual deve ser eliminada. Devido a esta
máquina, os dominadores imperialistas se devotam tanto à
democracia, pois eles sabem que este aparelho torna a
democracia um cartaz em branco.
Por exemplo, há
alguns dias houve as eleições primárias em Nevada, EUA.
O segundo candidato nas eleições foi Ron Paul, um homem
libertário, anti-regime, anti-guerra. Não discutimos se
ele era bom ou mau para nós; o que é relevante é que os
media US, integrados numa máquina, não deram
quaisquer notícias dos seus resultados. Verifiquei
dúzias de reportagens; o seu nome nem sequer foi
mencionado, embora o terceiro candidato fosse largamente
mencionado. Por outras palavras, os media agora
são capazes de minar até a democracia burguesa, que se
suporia eles protegerem e alimentarem.
Isto não é novo:
Vladimir Lenine no seu “Estado e Revolução”, escrito em
1916, disse que a democracia, mesmo a burguesa, não pode
ser realizada enquanto os media pertencerem a
pessoas particulares que limitem o acesso a ela. O que é
novo é o nível de integração: Os jornais antigos
possuídos por particulares podiam ser bons ou maus, mas
hoje os media estão concentrados nas mãos de
alguns donos e sindicatos e são eles que decidem o que
acontece no que diz respeito aos seus leitores ou
telespectadores.
A máquina dos
media está tão bem integrada que ela serve tanto a
direita como a esquerda. Certamente que há uma diferença
entre os media da direita e a da esquerda, entre,
digamos, o Guardian e o Telegraph, na
Grã-Bretanha, ou entre o Nation e o NY Post,
nos EUA, ou ainda, entre Libération e Figaro,
em França. Mas esta diferença não é tão grande quanto
parece, pois trata-se afinal de media burguesa.
Isto é, há uma diferença moderada. Nunca, ou muito
raramente, um jornal da esquerda apresenta um artigo
radical, mas usualmente os jornais da Direita e da
Esquerda nos EUA e na Europa são profundamente
anti-comunistas, sempre denunciando Estaline,
emporcalhando os muçulmanos, apoiando Israel, recordando
o Holocausto e esquecendo Hiroshima. Mas querem deixar
ao leitor um sentimento de liberdade de escolha. Por
isso oferecem algumas falsas alternativas ao público.
Por exemplo, a respeito de Cuba, oferecem estas
alternativas: a direita burguesa diz que Cuba devia ser
conquistada ou ostracizada, enquanto a esquerda burguesa
diz que Cuba deve ser tratada suavemente a fim de a
levar a uma mudança de regime. As pessoas
automaticamente escolhem a média dourada. A terceira
hipótese, que vê em Cuba um laboratório da sociedade
futura, nunca é considerada (1). Este é um novo aspecto
da sociedade: até agora, havia uma diferença real
nas opiniões expressas mesmo nos media
burgueses, mas agora só há fachada. Enquanto um regime
socialista (2) tenta criar um consenso para formar uma
opinião correcta, as técnicas modernas de doutrinação
aplicam o princípio do equilíbrio e da média dourada.
Baseiam-se num facto psicológico: sendo oferecidas duas
ideias, toda a gente procura automaticamente um
equilíbrio e escolhe a média dourada.
Veja-se o Irão.
Oferecem uma hipótese de escolha: devem os EUA ou Israel
bombardear o Irão, ou deve ele ser desarmado por meio
de sanções? A Alemanha pede mais sanções, os EUA
inclinam-se para o bombardeamento. Uma melhor
alternativa, deixar o Irão em paz, essa nunca é
considerada. Até a Rússia se coloca dentro deste
enquadramento. Os diplomatas russos dizem usualmente que
estão de acordo em que um Irão com capacidade nuclear é
inaceitável, embora eles acreditem que há meios brandos
para convencer os Iranianos, em vez de sanções ou
bombas. Têm razão? Ponhamos de parte por um momento o
carácter não agressivo do Irão. Mesmo que o programa
nuclear iraniano fosse completado, o Irão não tem meios
veiculares para o seu armamento. Ele não tem mísseis
capazes de transportar uma carga nuclear seja para onde
for.
Ao mesmo tempo, o
jornal israelita Haaretz (quinta-feira 17.01.08)
publicou um mapa
http://www.haaretz.co.il/hasite/images/printed/P180108/a.a.1801.1.1.9jpg,
que mostra que os novos mísseis de Israel, Jericho-3,
podem atingir Moscovo e Berlim, e são perfeitamente
capazes de transportar algumas das abundantes armas
nucleares que Israel possui, até estas cidades. Ao
contrário do Irão, Israel é habitualmente um estado
agressivo. O proeminente editor israelita, Matti Golan,
sonha com varrer a Alemanha do globo, enquanto os
neo-cons judaicos como Max Boot descrevem a Rússia como
uma grande ameaça. Contudo, é proibido discutir este
perigo da Rússia e Alemanha, mas o perigo do Irão pode e
deve ser discutido sempre. Os Russos podiam enfatizar a
ameaça de Israel; e fornecer o Irão com alguns mísseis
de defesa, ou com a técnica nuclear para criarem um novo
equilíbrio no Médio Oriente. Mas o aparelho ocidental de
formação de opinião impede-os.
No fundo, o
problema está com os intelectuais. Dantes, os
intelectuais ocidentais tinham fortes simpatias
comunistas, mas isso acabou. Por isso, muitos de nós
éramos seduzidos a apoiar o capitalismo e a aceitá-lo, e
muitos de nós tornámo-nos voluntariosos colaboradores do
imperialismo. Nos EUA, na Europa e na Rússia, o
Sionismo desempenhou um papel importante nesta mudança
climática.
Nos princípios da
década de 60, a juventude judaica — desde a cidade de S.
Francisco dos hippies até aos kibbutz em
Israel — apoiava a Esquerda. Alguns banqueiros e donos
de jornais judaicos simpatizavam com a corrente
esquerdista. Mas então, os judeus americanos melhoraram
as suas posições na sociedade americana. Em 1965, os
judeus americanos tinham um rendimento médio
ligeiramente inferior à média, e eram mantidos fora das
posições superiores da sociedade, e eram a favor duma
revolução e mudança; em 2008, os judeus dos EUA têm um
rendimento três vezes maior que o rendimento médio
americano, dez vezes maior número que a média de
posições elevadas e agora alinham-se pela direita. Os
judeus esquerdistas de ontem tornaram-se Neo-cons, e,
filhos de Trotsky, ajudaram Ronald Reagan a destruir a
União Soviética e agora bloqueiam Cuba. A judiaria
organizada virou à direita e levou consigo a máquina dos
media que se tornou mais pró-sionista e mais
unificada.
Pode-se notar
isso na questão-chave da Palestina. É do interesse dos
povos de Israel e Palestina eliminar o apartheid
como foi feito na África dos Sul (graças ao esforço
cubano), isto é, criando um único estado democrático
onde Judeus e não-Judeus sejam iguais perante a lei. Em
vez disso, e o melhor que se pode desejar para a
Palestina, é um conjunto de Bantustões que foi
correctamente rejeitado na África do Sul. Por esta razão
o crime medonho de matar à fome todo o povo da Palestina
pôde ter lugar sem muitos protestos, embora Fidel
condenasse o cerco de Gaza em termos claros. A opção da
igualdade, a opção da África do Sul, pode mesmo não ser
considerada nos jornais europeus e americanos. Por isso
o apartheid na África do Sul foi universalmente
condenado, enquanto que o apartheid em
Israel/Palestina ainda está florescendo.
O Sionismo é um
inimigo de Cuba e de todos os estados livres da América
Latina: Israel, o perpetrador de apartheid, vota
sempre contra Cuba sempre que há eleições na ONU ou
outras quaisquer. Os melhores amigos de Israel nos EUA
são Bush e Giuliani, grandes inimigos de Cuba. Israel
forneceu armas aos Contras para lutarem contra os
Sandinistas. Israel e a Judiaria organizada americana
participam activamente na campanha contra Hugo Chavez.
Há muitos homens
e mulheres em Israel que gostam de Cuba, que escutam a
vossa música e vestem as camisas com o retrato do Che
Guevara, mas o poder no Israel do apartheid
pertence a outra gente, aos inimigos de Cuba e aos
inimigos do socialismo. Do mesmo modo, há muitos judeus
americanos que gostam de Cuba, mas as poderosas
organizações judaicas estão contra Cuba e contra Chavez.
A esquerda
pró-sionista tornou-se “um bom polícia” que combina com
o mau polícia da Direita, perseguindo o mesmo objectivo.
O bom polícia esquerdista fez muito por minar a União
Soviética. O senhor dos media britânicos, Robert
Maxwell, que fez amizade com os líderes soviéticos e
publicou os seu livros no estrangeiro, era agente da
Mossad, o serviço secreto israelita. Com tais amigos, os
soviéticos não precisavam de inimigos.
Os nossos
inimigos dizem que os media controlados pelo
estado não são livres. Para eles os únicos ”media
livres” são aqueles possuídos pelos senhores dos
media. Eu nunca pude compreender por que um jornal
que pertence a um Rothschild (como o francês
Libération) ou a um Asper (como todos os jornais
canadianos) é automaticamente mais livre do que um
jornal que pertence ao povo, mesmo através do estado.
Os media
pertencentes ao estado são bens importantes que devem
zelar pelo interesse do povo. Os media pertencentes a
particulares mais tarde ou mais cedo serão comprados
pelo por um rico senhor dos meios de comunicação e
integrados na mesma máquina. Mas os media do
estado devem aprender a oferecer uma escolha. Nós
sabemos que há uma oposição pró-Ocidente em Cuba.
Ouvimos as suas vozes através dos media
ocidentais. Mas também há dissidentes de oposta
persuasão, pessoas que querem mais comunismo. Compreendo
que as suas opiniões são consideradas um pouco
obsoletas, mas faz sentido permitir-lhes vocalizar as
suas opiniões, de modo que elas contra-balancem os
intelectuais pró-Ocidente e as nossa opiniões serão
justamente consideradas a média dourada. Na União
Soviética, a derrocada aconteceu PORQUE os media do
estado foram apanhados pelos apparatchiki
pró-ocidentais, e eles bloquearam o acesso do povo às
opiniões dos outros.
A Internet
deveria ser fortemente abraçada: primeiro, as nossas
posições são fortes na Rede. Os Mestres do Discurso
ainda não controlam a Rede, e há milhares de sítios
amigos de Cuba e das ideias de igualdade, sítios que
desmascaram as mentiras neo-liberais. Segundo, a
Internet é muito facilmente disponível; hoje não há
necessidade de cabos, pois a Internet portátil pode
chegar às aldeias, e cada estudante pode tê-la. Para
Cuba, onde os livros são caros e difíceis de obter, a
Internet é a melhor solução. Os cubanos instruídos
tornam-se um elemento importante na batalha mundial das
ideias, e eles devem ser treinados para esse papel. A
Internet permite isso, pois há milhares de discussões ao
mesmo tempo.
O colapso da URSS
foi causado em grande parte pelas classes instruídas
russas, a intelligentsia, que era muito
pró-ocidental nos últimos tempos da União Soviética. Uma
das razões foi que o estilo soviético de discurso não
permitia a discussão aberta. Eles nunca tinham lido
Chomsky, nunca tinham ouvido Fidel, e nesses tempos
ainda não havia a Internet. Não conheciam os fortes
grupos e vozes anti-imperialistas do Ocidente. Eram
inocentes: pensavam que viveriam como professores de
Harvard, enquanto toda a Rússia viveria como a Suíça
após a mudança para o capitalismo. Como resultado, a
Rússia sofreu muito e o país esteve à beira do colapso
total. A intelligentsia sofreu muito. A sua sorte
foi resumida por Viktor Pelevin, cujos livros vos
recomendo fortemente. Escreveu ele: nos dias do
comunismo, supunha-se que a intelligentsia russa
devia beijar o traseiro ao Dragão Vermelho e era mal
paga por fazê-lo. Odiavam o Dragão e envenenaram-no com
o lipstick que receberam do Sapo Verde. Mas cedo
se aperceberam de que o Sapo Verde não precisava de
milhões da intelligentsia, mas apenas de três
intelectuais que fizessem sexo com o Sapo 24 horas por
dia, sorrindo-se deliciadamente.
A maioria do povo
russo está profundamente insatisfeita com o capitalismo
— não somente porque a sua sorte pessoal mudou para
pior, mas também porque o capitalismo fez a Rússia
subserviente do Ocidente. Agora o presidente Putin, que
é um moderado nacionalista, tomou um curso mais
patriótico, e as coisas melhoraram um pouco, mas ainda
hoje, num caso de verdadeira e aberta democracia, os
Russos votariam por um curso mais forte anti-neo-liberal
e anti-Yankee. Agora o capitalismo está atravessando a
sua crise mais profunda durante longo tempo, quando o
tão procurado dólar se tornou papel sem valor. A ideia
socialista deve ser activamente apresentada nos media.
E não só a socialista: também as ideias anti-liberais e
anti-burguesas o devem ser.
Por exemplo,
os direitos humanos. Não é um
nobre conceito? Mas em nome deste conceito, países foram
conquistados e centenas de milhares foram massacrados.
Cuba é frequentemente atacada pelos seus “abusos dos
direitos humanos”, porque ela limita estes direitos
quando eles trespassam os direitos da sociedade. Os
nossos adversários negam que a sociedade tenha direitos;
para eles, somente os indivíduos, e de preferência
aqueles com muito dinheiro, têm direitos. Uma vez
perguntaram-me a respeito dos direitos humanos em Cuba
num programa televisivo na Rússia, e eu disse; Na
verdade, em Cuba há horríveis abusos dos direitos
humanos e devíamos falar contra eles, em Guantánamo,
Cuba. Mas, surpreendentemente, não quiseram discuti-los
☺. O conceito dos direitos humanos deve ser equilibrado
pelas obrigações para com a sociedade, disse um filósofa
importante comunista, Simone Weil, no seu livro “A
Necessidade de Raízes, ou o Prelúdio para uma Declaração
dos Deveres para com a Humanidade”. Os direitos, na
sua opinião, são ‘subordinados e relativos’ às
obrigações. Simone Weil podia dar esta resposta correcta
porque recusava a armadilha do liberalismo. Ela nem
sequer prestava serviço de boca aos dogmas liberais.
Direitos das
minorias sexuais. O direito
dos homossexuais adoptarem filhos deve ser equilibrado
pelo direito dos filhos terem verdadeiro pai e mãe. O
seu direito de se “casarem” deve ser equilibrado pelo
direito dos homens e mulheres entrarem numa união
sagrada chamada casamento. Do mesmo modo, o direito de
um homem comer carne de porco deve ser limitado ao
direito colectivo de judeus e muçulmanos terem um lugar
que não seja profanado pela carne de porco. Isto não é
uma questão importante: pessoas comuns, a vasta maioria
em toda a parte, são contra a prioridade dos direitos
das minorias sexuais em relação aos seus direitos de
vida familiar. Nos EUA, esta questão é usada para criar
um cisma entre os activistas progressistas e as massas.
Direito ao
culto. A animosidade entre
socialistas, ou comunistas, e a Igreja não é uma questão
inerente; ela apareceu dentro dum certo contexto
histórico e agora pode ter terminado. No auge da
Revolução, em 1918, o grande poeta russo, Alexander
Blok, visionou os soldados vermelhos a serem guiados por
Jesus Cristo invisível. Se os comunistas russos
conseguirem criar uma harmonia com a Igreja, o Comunismo
sobreviverá. É bom que em Cuba as igrejas estejam
abertas, que vós tenhais relações positivas com a Igreja
Católica, com a sua teoria da libertação e cuidem da
vossa colorida Santeria. Mas a paz com a Igreja
significa mais interacção de ambos os lados. No século
XIX, o governo colonial de Cuba deportou padres
católicos em massa porque eles apoiavam a revolução. O
actual governo pode reverter a tendência. Na América
Latina há muitos padres e bispos pró-socialistas, e eles
poderiam ser trazidos para Cuba, enquanto os
anti-socialistas poderiam ser solicitados a
retirarem-se. Cuba pode insistir no seu direito de
escolher os bispos para assegurar que padres mais
progressivos ocupem as suas posições. Se a Revolução
abraçar a Igreja, a Igreja pode abraçar a Revolução.
A última coisa
que quero dizer: tenham a certeza da vossa razão. Vós
estais no caminho certo. A vida em Cuba melhora
constantemente desde os anos de 90. Ainda tendes o sábio
líder, Fidel Castro, que é parente de Noam Chomsky pelo
seu pensamento radical, e tem o forte apoio das massas,
um sonho do rei-filósofo de Platão. Ainda tendes o povo
que repeliu a agressão americana, que rebaixou o corpo
armado do apartheid nas savanas de Angola (3);
vós tendes muita gente com a melhor instrução do mundo.
Vós sois a luz do mundo, continua a brilhar, ó Cuba! ¶
(1 ) A
História é um processo contínuo em permanente evolução.
Ao Imperador romano sucedeu o caos; ao caos o senhor
feudal; ao senhor feudal sucedeu a aristocracia; a esta
a burguesia; à burguesia sucedeu a democracia popular,
supostamente o poder do povo; e ao povo quem sucederá?
De novo o Imperador e o caos? Ou simplesmente a
destruição nuclear da vida civilizada? Não há objectivo
predeterminado para a sociedade. Mas para o indivíduo
há, pode e deve haver, um objectivo há muito almejado: o
Farol da Vida, o próprio Cristo. LUSO
(2)
Socialista ou social? LUSO
(3) Alguém
me explicará isto? Não compreendo. LUSO
[кто мне это объясняет? Не понимаю.]