As Sete Vacas Magras
Israel Shamir
Por Joe Moorman at Riverson Fine Art |
Está um dia quente e soalheiro em Jaffa, porto pesqueiro
do Mediterrâneo Oriental, mesmo a sul de Tel Aviv; o céu está azul, o
mar bastante calmo, e a clientela dos cafés de passeio à beira-mar gozam
o seu araque leitoso e o café perfumado de coentro. A crise económica
nunca chegou aqui; há poucas lojas fechadas, os preços permanecem altos,
embora o frenezim das compras tenha sossegado um pouco. Uma permanente
corrente de turistas de além mar assegura-nos que Israel não é a única
ilha de calma num mundo perturbado. Contudo, os jornais competem uns com
os outros com as histórias do horror económico. Eles dizem que as
vendas do champanhe francês no Cazaquistão estão em baixa. E “as vendas
dos automóveis Porsche e Mercedes caíram cerca de 50% este ano. As
pessoas vão ter que se habituar a comprar menos bolsas Louis Vuitton”,
queixam-se os vendedores americanos. Hii, isto é mesmo uma calamidade,
que pede providências urgentes! |
Leio no NY Times a coluna de Tom Friedman,
pedindo aos jovens americanos, que normalmente enchem os
restaurantes, que fiquem em casa, comam sanduíches de atum e
tenham medo, muito medo – mas eles não fazem caso dos seus
avisos. Bem, o rapaz da velha história gritou demasiadas vezes
que havia lobo. Ele tenta amedrontar-nos, mas eu não me assusto,
como Leão Tolstói contou uma vez dum companheiro escritor. A
grande máquina da propaganda ocidental já nos pregou demasiados
sustos para que lhe liguemos. Lembrai-vos das ADM do Iraque, da
supermaligna Al-Qaida, do terror mundial, do Pico do Petróleo,
do aquecimento global, da doença das vacas loucas, da gripe das
aves? Conheceis pessoalmente uma só pessoa que sofresse devido a
uma destas causas?
Olhai mais para trás, para o grande susto da
SIDA em 1990. Então supôs-se que a SIDA iria destruir o mundo
como o conhecemos e que mataria biliões; mas na verdade, apenas
causou algumas baixas nas comunidades dos homossexuais. Sim, os
manufactores dos preservativos e a Big Pharma fizeram uma
fortuna e os indutores do sentimento de culpa acusaram-nos de
sermos pouco compassivos com os sofredores, mas, na verdade, foi
apenas um susto. Agora querem assustar-nos com as sanduíches de
atum.
Isto não quer dizer que eles não consigam os
seus fins. Se alguém gritar “Fogo!” dentro dum cinema à cunha,
os resultados podem ser trágicos, mesmo que o fogo não exista. E
há razões para que as coisas aconteçam desse modo.
As habituais explicações são que os banqueiros
são estúpidos. Eles não sabiam o que faziam quando inundaram o
mercado com o seu crédito barato, ou impingiram trocas ou
derivados mercáveis. Por outro lado, argumenta-se que eles foram
tão gananciosos, que não entenderam os seus interesses a longo
prazo e arruinaram tudo. Mas os banqueiros e a elite financeira
não são estúpidos, nem curtos de vista. Acredito que as
coisas acontecem porque há pessoas que fazem com que elas
aconteçam, a não ser que haja provas muito fortes em
contrário. Acredito que, a não ser que façamos qualquer coisa de
drástico, ele acabarão por emergir da crise ainda mais ricos,
mais poderosos e com maior controlo sobre as nossas vidas.
Um processo semelhante aconteceu no antigo
Egipto, dizem-nos. Houve alguns anos de prosperidade, e os
espertalhões amontoaram; depois, alguns anos de escassez se
seguiram, e o povo comum acabou por se endividar e se escravizar
aos espertalhões.
Provavelmente, reconhecereis esta história como
sendo a de José e do Faraó (Génesis 41). O Faraó sonhou com sete
belas vacas gordas que saíram do Nilo e pastavam num prado. De
repente, outras sete vacas, feias e magras, apareceram a seguir,
saindo do rio. “E as sete feias vacas magras comeram as sete
lindas vacas gordas”, diz a Escritura. O Faraó acordou e pediu
conselho a José; e este aconselhou-o a guardar as colheitas até
aos dias de escassez, quando as colheitas acumuladas poderiam
ser usadas – não para alimentar o povo, mas para escravizar
o povo.E assim foi: todo o povo do Egipto se tornou escravo do
Faraó, graças ao matreiro conselho de José. Por esta razão, o
povo do Egipto guardou um sério ressentimento contra José e a
sua tribo de conselheiros financeiros.
A História está sempre a repetir-se. Os
conselheiros financeiros do último dia usaram o modelo
arquetípico do José bíblico, mas foram ainda mais longe: Em vez
de gozarem a prosperidade e prepararem-se para a escassez,
orquestraram ambas. Primeiro, abriram as portas do crédito e
encravaram muita gente. Depois, fecharam as portas e fizeram
entrar a sua arma do Armagedão, as sete vacas magras. A linha
de base é a mesma de sempre: eles querem escravizar a América e
o mundo.
Os nossos amigos do mesmo parecer na Rede (Mike
Whitney) condenam as ferramentas técnicas – trocas, derivados,
ABS, MBS CDO, CLO, e outras abreviações. Elas entram em
tecnicismo, explicam como este dispositivo trabalha, como
convenceram os outros, como descarregaram e mudaram em seguros
as dívidas tóxicas. A parte do “como?” pode ser interessante,
mas a parte do “por quê?” devia interessar-nos mais. Se
negociarmos com um ladrão, não percamos muito tempo na discussão
das suas ferramentas do crime, olhemos para o próprio crime.
Que é que eles planearam fazer? Na Fase Um,
transformaram os EUA num grande dispositivo sugador de dinheiro,
um aspirador dos bens do mundo. Imprimiram dólares de papel sem
valor, fizeram títulos de crédito sem valor, geraram triliões
de dívidas. Os rendimentos do gás da Rússia, do petróleo árabe,
da mão-de-obra chinesa, das inovações japonesas, do minério de
África, dos automóveis suecos e do vinho francês foram apanhados
neste buraco negro. Mikhail Khazin, o economista russo, explicou
que estes criminosos actuaram como qualquer esbanjador:
endividaram-se, e depois pegaram no seu dinheiro e saíram, e
deixaram as dívidas para o público se arranjar com elas.
Conseguiram pôr muitos americanos e britânicos em dívida, e com
as notas promissoras de dívida vigarisaram o resto do mundo com
elas. Na Fase Dois, eles tosquiam os americanos comuns que se
tinham sentido felizes em participar na grande roubalheira da
Fase Um. A sua bancarrota não lhes causa o mínimo engulho. Não
se é preciso ser judeu para se usar as tácticas judaicas, e os
banqueiros americanos – judeus ou não judeus – tiraram uma folha
do livro tradicional das patifarias judaicas e aplicaram-na numa
escala inaudita. E entre estas patifarias, a bancarrota é uma
das mais populares. Enron foi a primeira experiência; a ideia
teve muito sucesso: pega-se numa comodidade pública e rouba-se;
eventualmente as pessoas inocentes terão de pagá-la.
Se o plano deles for levado até ao fim, o povo
comum dos EUA encontrar-se-á bem endividado, ao mesmo tempo que
os ganhos irão para uns poucos de felizardos. Seguem-se, depois
do que fizeram, os seus planos para “salvar a economia”.
Alguns gajos fazem milhões, enferrolham-nos, e depois pedem ao
povo que os compense, pois de outro modo (Deus nos ajude!)
haverá empresas falidas de Relações Públicas que publicitam o
champanhe no Cazaquistão. O remédio é o mesmo que noutros
tempos. O povo do Egipto podia condenar o Faraó e o seu
conselheiro financeiro José: as colheitas apanhadas são nossas,
agradecemo-vos o terem-no–las guardado temporariamente, agora
desapareçam. Não sonhem sequer que nos endividaremos e aos
nossos filhos afim de obtermos o que por direito é nosso.
Do mesmo modo os Americanos podem responder aos
planeadores da austeridade, incluindo a Tom Friedman: vocês
fizeram dinheiro, agora devolvam-no. Vocês promoveram o plano,
agora aguentem a conta. Vocês planearam confiscar os nossos
bens, agora nós confiscamos os vossos. Tomai conta dos bens
pessoais e super-privados dos gatos gordos. Cancelai as suas
contas, vendei-lhes as casas e os bens visíveis. Responsabilizai
toda a pessoa que esteve empregada num banco pela falência do
seu banco. Linchai a Goldman Sachs. Proibi as falências. Julgai
em tribunal os responsáveis pela bancarrota; pois eles sabiam o
que ia acontecer, pois foram eles que a planearam. Não é por
acaso que o arquitecto do colapso, Alan Greenspan, fez o seu
juramento para o Federal Office sobre o Talmude em frente de Ayn
Rand, satânico criador do culto do Egoísmo Iluminado. (O
Atlas Encolhido de Rand lê-se como o Mein Kampf
romanceado por Barbara Cartland, observou sarcasticamente o
nosso amigo Ian Williams.) E Greenspan foi correctamente
descrito por Stephen Lendman como o Inimigo Público nº1. [ver
na Internet: Stephen Lendman, Public Enemy number One—o tradutor].
Esta crise económica dá-nos algumas lições
importantes: A economia mundial tem sido dirigida nos últimos
vinte anos (e fez grande progresso) não usando “dinheiro real”,
mas apenas dólares de papel sem valor, notas promissórias e
títulos sem valor. O dinheiro que usamos é “dinheiro de
Monopólio”, dinheiro de brincar – e ainda funciona! Devemos
desmistificar o dinheiro, compreender que ele não tem substância
real, que é um artifício provisório que pode ajudar os
contabilistas, e servir como medida de investimentos, mas não é
a medida final de tudo. O mundo pode dar o passo seguinte e
mudar para um dinheiro futuro com juro zero livre de crédito,
que não enriqueça um grupo de pessoas às custas de outros. Tal
dinheiro foi usado na Rússia Soviética com grande sucesso, até
que a nomenclatura do partido mudou para os dólares US, obtendo
lucros imensos para si própria, deixando o resto do povo sem
tostão. Agora, a nomenclatura US decidiu usar o exemplo dos
oligarcas russos e depenar o povo americano.
Mas não entremos em pânico, porque é isso que
Friedman e Greenspan desejam. O pânico é mau conselheirop. A
crise é imaginária: as máquinas continuam a funcionar; o povo
ainda conhece as suas profissões. Os tubarões comer-se-ão uns
aos outros, e o peixe miúde escapará à rede. Os Americanos
tiveram um bom tempo, embora emprestado. Embora muito dele fosse
roubado ou desperdiçado, algumas das dívidas fundaram
melhoramentos reais. Fora do núcleo Neoliberal Anglo-Americano,
a economia está sã. Um período de arrefecimento não seria
demasiado mau para o planeta. Alguma restruturação do trabalho é
necessária – depois da crise, haverá menos necessidade de
corretores e mais de correctores. Quanto às dívidas, há uma
solução: em vez de se roubar o povo, expropriai os
expropriadores – roubai aos ladrões!
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